Monday, February 02, 2009

Campo vs. Cidade

Um lado da minha família é do campo. De tempos a tempos, a discussão recai sobre a possível primazia entre interior e litoral, ou entre campo em cidade (embora a cidade que eu defenda, por nascimento, seja a Marinha Grande, que não é propriamente o melhor exemplar de cidade). Podem dizer-me que é uma discussão inútil, e até aceito que o possa ser, mas de caminho, penso que saio dela mais edificado.

No campo, há contacto mais estreito com os vizinhos, o que não dou como certo que seja uma vantagem. Uma boa dose de isolamento pode ser tão boa se bem aproveitada. Relembro o filme Dogville, que vimos no EBU; numa pequeníssima aldeia do interior dos EUA, terríveis atrocidades acontecem nos quartos e nos pomares; todos sabem, ninguém faz contra isso. A real grande vantagem do campo é contacto estreito com a Criação. As crianças sabem de onde a comida vem, e vêm coisas a nascer, crescer e morrer, e aprendem um vocabulário que perdura. A natureza apresenta-se muito próxima do propósito que Deus lhes atribuiu na sua relação com o homem.

Na cidade, a Criação apresenta-se transtornada. O nascimento e a morte são omitidos e suavizados, e o conhecimento que importa constrói-se em coisas fugazes, que mal se aguentam uma geração. Ninguém sabe da vida dos vizinhos, mas sabem da vida daqueles que escolhem saber. Coisas boas e más ao mesmo tempo. No entanto, a cidade tem uma vantagem insuperável. Se o campo tem muita natureza, também tem pouca gente. A cidade não tem natureza nenhuma, mas está cheia de gente. São a criação especial de Deus, portadores da Sua imagem, e aos montes. Por isso, por uma unha, ganha a cambada dos convencidos dos superficiais dos da cidade.