Saturday, June 03, 2006

Estudava eu Mecânica dos Fluidos

Não me deu nenhum flash, são reflexões antigas, mas remeti-me à gastronomia.
Relembro aquela vez em que, no fim de Julho, um colega cá de casa me pediu que lhe comesse os iogurtes porque não os ia levar para a Marinha Grande, e não valia a pena deixá-los estragar. Eram uns Corpos Danone (prescritos pelo médico de família, segundo me disse). Pouco me importou o conteúdo. Aquela embalagem estilizada, aquela dose individual de vaidade por comer um iogurte contido numa embalagem encarecida por sair das mentes dos designers, valeu toda a experiência.
Importando nova inspiração comestível, relembro aquela vez na cantina, em que para além das saladas, serviram uns rissóizinhos lourinhos, como os dos casamentos. Em vez de se tirar uma porção da malga comum da cenoura ralada, tira-se um, dois, quantos rissóis se quiser.
Parece-me a mim que a divisibilidade das coisas nos afasta de Deus. Envaidece-nos e faz-nos olhar para o umbigo. Os Corpos Danone são consequência directa da teologia liberal e os rissóis são vítimas da conspurcação da sã doutrina. Em menos de nada, reclamamos por direito o nosso bocado exclusivo, o nosso rissol, a nossa fé pessoal, o nosso pedaço de satisfação estilizada e individualizada.
Começo o post daquela maneira porque, se Gargarin não achava Deus no céu acima da atmosfera, também há quem não o encontre nos espaços nanoscópicos intra moleculares. Obviamente, perdi-me da ideia inicial.
Para finalizar, relembro que Eva não se serviu de uma concha de salada de frutas da Taça do Conhecimento do Bem e do Mal. Ela tirou um fruto. Um rissol.
E tendo provado, foi logo evangelizar Adão com a sua transgressão. Pano para outras mangas (que nada têm de machismo, ou muito menos feminismo).