Thursday, September 13, 2007

Da Leitura do Mero Cristianismo - Post 7



Jantado, opinião formada sobre o quase (que incompetência) murro do Scolari, Tindersticks a tocar, continuemos, então!

Pego no motivo de discussão que encontraste, sobre o possível maniqueísmo do C.S. Lewis, relembrando uma coisa. É que a perspectiva maniqueísta do Lewis acaba por não o ser assim tanto. Ele diz que Bem e Mal existem – e isso activa-nos logo certos s(c)ensores. Mas também diz algures no livro que o Mal é uma corrupção do Bem, uma fraca imagem do que as coisas deveriam ser. Há uma parte do livro em que ele contrapõe as “virtudes cardeais” aos “pecados correspondentes”, não há? De facto, os cristãos acreditam que só Deus tem o poder de criar alguma coisa, e que ao Diabo (bela palavra de se escrever) apenas resta distorcer as coisas que Deus criou. No caso do teu texto, salientaste a forma como o mal se manifesta na ausência de escrúpulos para conseguir alguma coisa, que na sua essência, até é boa. No entanto peço-te que confrontes este maniqueísmo com o não maniqueísmo das pessoas extremamente cientes da complexidade da vida. Regra geral, essas pessoas, como todas as outras, consideram que há coisas más e coisas boas, certas e erradas. A diferenças está em terem o bom senso, prudência, falta de coragem, engenho, whatever, de não as nomear como sendo boas ou más, ficando-se por expressões como "isso não é assim tão simples". De facto, nem têm de o fazer se não acreditam que existe uma Lei moral, mas acho que deviam levar até ao fim essa perspectiva e não considerar nada bom ou mau.
No fim volto a perguntar onde é que realmente predomina o maniqueísmo?

Depois falas na culpa, esse facto científico generalizado entre a população portuguesa e leccionado nas aulas de Língua Portuguesa do ensino secundário.
A ênfase do Evangelho está no arrependimento e não na culpa. Claro está, arrependimento envolve reconhecer a culpa, mas vivendo permanentemente em culpa, isso será sinal que não se aceitou o perdão, deixando o arrependimento incompleto.

Eu acredito que o Homem vive separado de Deus, e isso percebe-se porque pecamos; sabemos isso porque não há ninguém que não encontre na sua vida uma série de erros que fizeram mal a outras pessoas ou a ele mesmo. Contudo, a ênfase vai para a separação e não para os erros que conseguimos identificar. Sim, porque para além dos que conseguimos identificar, há uma série de outros que cometemos sem darmos conta disso. O crescimento (espiritual, creio eu) vai tornando-nos cientes da real quantidade de pecados que cometemos (diferente de vida em pecado contínuo), no entanto, se não nos arrependermos da tal separação, chovemos no molhado.
Ou seja, a culpa cristã não serve para nos melhorarmos, não serve para coisa alguma. A culpa cristã existe porque os cristãos, a determinada altura das suas vidas, se reconheceram culpados, e acham que faz parte do plano de Deus para o Homem que ele reconheça essa culpa, essa separação, e peça perdão por isso.

Não sei se isto dá a continuidade desejável ao teu post. Tive algumas dificuldades em não pôr-me para aqui a “falar línguas”, e acho que esta dificuldade vai acentuar-se. Pelo CD dos Tindersticks, concluo que demorei mais de 70 minutos a concluir este post.

AH: uma dúvida: de certeza que "Um território ocupado pelo inimigo, eis o que é este mundo!" é mesmo sobre a sociedade contemporânea?
AHH: não consigo evitar aqui uma nota de desprezo para os ateus que argumentem o que quer que seja com a "Palavra Libertadora de Jesus". Ainda que essa expressão não esteja errada, de certeza que é usada com um significado a milhas do que ela pode realmente querer dizer. Sim, a liberdade vem na promessa, mas será que eles estão dispostos a ler a frase toda? ("Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. ")

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