Monday, May 21, 2007

Um post sobre moda

É fácil sentir fascínio por pessoas idosas. Olhamo-las e estamos logo prontos para romantizar. Porque as rugas são muito mais complexas do que bochechas lisas e quando as coisas são complexas, a ausência de conclusão não interrompe o raciocínio e acabamos por romantizá-las. Romantizar também é raciocinar, não é?

É fácil encontrar uma beleza especial em gente velha com pele muito morena e olhos azuis vivos. Posso arriscar? Talvez os olhos claros garantam que a tez da pele não é só uma manifestação do genótipo, e que portanto existe uma causa que explique aquele tom de pele. A expressão “pele curtida” costuma acender a faísca e vem à mente nestas situações, pelo menos nas mentes de quem costuma ler. Nas histórias dos livros, a pele pode ser curtida pelo sol, mas também pelo sal e pelo vento. Ou seja, faz sentido em pessoas que, primeiro, trabalhem, e segundo, ao ar livre. Estranho mundo este em que o ofício seca a pele, pelo menos para as pessoas que costumam ler.
Pergunta-se como será, e parece estranhamente exótico, até mesmo invejável. Surge a ideia de que aquela pessoa vive em paz, grata com a vida, expectante, no máximo, pelo desenrolar das estações. Primavera, Verão, Outono, Inverno, Primavera… Viu plantar, crescer e cortar pelo menos uma mesma árvore.

Mas não esquecer que os livros falam sobre pessoas, mas também são escritos por alguém. E esses também costumam ser alvos de admiração. Basta começar pelos olhos encovados e semicerrados, e já adivinhamos noites em claro em busca do desfecho brilhante para a perpetuar uma ideia, madrugadas adentro de lamentação por não ter conseguido…

Este post é sobre roupa. Ou sobre moda. Desde há algum tempo que a roupa deixou de basear apenas em conjugações de cores e linhas estrategicamente orientadas, assim como os penteados, aos quais se pode atribuir temperamentos e feitios sem se ser simpatizante de poesia.
Agora, tudo também tenta trazer uma história. Calças rasgadas, calças ruças, t-shirt´s pequenas demais, all-stars. O que até tem piada é que a moda aponta para um personagem de origens humildes. Rasgou as calças e não tinha posses para comprar umas novas, que usou até ficarem ruças, sem grandes complexos porque se habituou a não se preocupar com o que pensam dele. Quando cresceu, não renovou o guarda-roupa ao mesmo ritmo e o melhor calçado que pode comprar eram all-star, que substituia e rompia ciclicamente a jogar à bola nos ringues municipais. Andava sempre com o cabelo nos olhos, e era a sua imagem de marca, porque quando jogava, apenas visualizava e concentrava-se na bola, sempre colada aos seus pés de médio ofensivo. Mais tarde, trocou a bola pela guitarra, mas a franja nunca lhe saiu da testa. Claro que o cabelo teria madeixas loiras queimadas pelo sol, por passar dias inteiros de Verão na praia.

Só que agora a história conquista-se numa ida à loja, e, exasperando o consumidor médio, mais de uma hora no cabeleireiro.

2 Comments:

Blogger HugoBenjamim said...

Ok! A parte da beleza nas rugas e na pele velha vai contra toda a estratégia de marketing da Johnson's Baby.
Eu, em particular, sou mais cativado pela frescura da juventude.

Mas gostei da tua analise da moda... é bem pensado! Um bocado de fantasia pelo meio mas não deixa de ser um bom ponto de vista!

Thursday, May 24, 2007  
Blogger Pedro Leal said...

Bem observado.

Thursday, May 31, 2007  

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