Até quando?

O suicidio de três quadros da Renault em França desde Outubro do ano passado tem dado que falar. Fiquei chocado, mas não surprendido. Chocado porque se perderam três vidas, chocado porque se perderam três vidas aparentemente ao que tudo indica por causa de condições de trabalho. E não eram simples operários a executar tarefas monótonas, mas quadros médios do "Tecnocentro" da Renault em Guyancourt. O "Tecnocentro" é o local onde nascem e são desenvolvidos todos os Renaults, portanto cheio de engenheiros, designers e outros técnicos altamente qualificados. No entanto não me surpreendo por que a globalização e este "monosistema" económico em que vivemos leva a que cada vez mais sejam inflingidas pressões sobre quem trabalha. As margens de lucro são cada vez menores, as matérias primas cada vez mais caras, os prazos de concepção cada vez mais curtos e os custos de produção cada vez mais altos. Os accionistas exigem retorno do seu investimento, põem pressão sobre todos os que estão no degrau abaixo. E a pressão vai subindo quanto mais baixo se desce. A concorrência não perdoa, a tecnologia também não e as pressões aumentam. Até quando? Até quando este sistema vai durar? Ele vai implodir mais cedo ou mais tarde e isto que se está a passar na Renault é um claro aviso. O ser humano está a chegar ao limite. E o pior é que não há alternativa. O "outro" sistema já ruiu há dezassete anos e este não tardará muito mais. A sociedade de lazer acabou. Para muitos nunca existiu (esses serão os ultimos a quebrar). Até quando? Até quando vão durar os suicidios, as familias destruidas (porque o monosistema exige o máximo do individuo), os anti-depressivos e as consultas psiquiátricas, as lavagens ao cérebro para sermos competitivos e não solidários? Até quando?