Saturday, November 05, 2005

O que eu quero é do belo

A azelhice de um professor universitário que escreveu fórmulas químicas no quadro com tinta impermeável contraposta pelos gestos circulares decididos plenos de experiência, pela senhora contínua, que teve de limpar o quadro todo com diluente. Até Mr. Miagy teria a aprender com a situação, reduzido à condição de Miagy Son.
Isto redespertou em mim a velha sensação. A do prazer de ver uma coisa a ser bem feita. Necessariamente enumero uma lista de exemplos: um músico que toca sem esforço; o Ian Ulrich a pedalar numa bicicleta de contra-relógio; o Pierre van Hooijdonk a marcar grandes penalidades; um professor a fazer a demonstração de um teorema com a certeza dogmática que de que efectivamente, aquilo resulta; e passando pelos casos da maior beleza, a mãe a descascar batatas, o pai a dactilografar, a tia a atender os clientes*, a avó a amassar o pão, o avô a amolar uma faca, o avô a amolar uma faca, o avô a amolar uma faca.
Tudo isto é belo. O gesto moldado pela prática dos anos é a mais harmoniosa das coreografias. Na quase precisão da quase repetitividade, quase se atinge a perfeição. Não é preciso ser eficaz. É bonito e basta.

* O remate de primeira linha da Telma teria aqui lugar assegurado, mas ainda não preenche os requisitos etários; é uma questão de perseverar durante uns tempos e este post será remodelado.

Este post leva um certo teor familiar; veio em hora apropriada. A partir desta semana, o blog tem novos membros, com laços familiares em comum. Chegou a prima Sofia, e seu homem Alexandre (meu primo, portanto). Corre sangue heliodórico nas veias deste blog. Beware!

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